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A DESIGUALDADE DOS CORPOS E A SELETIVIDADE DA MEMÓRIA NO BRASIL PÓS-TRANSIÇÃO DEMOCRÁTICA

  • Beatriz Besen de Oliveira
Palavras-chave: Marcas ditatoriais, memória política, juventude, Estado, corpos

Resumo

O diagnóstico social desenvolvido a partir da pesquisa-participante em Heliópolis no projeto Memórias e Resistências: a ditadura na quebrada (2016-2018) e de dados sobre a violência contra a juventude periférica no Brasil revela que feridas no tecido social são causadas pela persistência de práticas de violência e tortura pós transição democrática. O presente artigo busca demonstrar que tal violência está ancorada no estabelecimento da desigualdade entre corpos, ou seja, na definição dos corpos que são protegidos e valorizados, inclusive pelo Estado, em detrimento aos que são descartados e violentados. Também procura relevar como a suspeita sobre as narrativas feitas por corpos considerados desviantes das normas conduz à seletividade da memória e ao trauma. Inicia-se discutindo a persistência das marcas ditatoriais no Brasil (1), segue-se para uma análise sobre os corpos vítimas de violência, estabelecidos como incircunscritos e desumanizados (2), discute-se então a perversão da suspeita versus o direito à memória (3), e conclui-se apresentando uma breve reflexão sobre o papel de resistência da universidade por meio da construção da memória política e da produção partilhada do conhecimento.

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Como Citar
Besen de Oliveira, B. (2020). A DESIGUALDADE DOS CORPOS E A SELETIVIDADE DA MEMÓRIA NO BRASIL PÓS-TRANSIÇÃO DEMOCRÁTICA. CODAS, 1(1), 41-60. Recuperado de //cadernoscodas.fpabramo.org.br/index.php/codas/article/view/5